sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O importante é competir!




Nesta vida todo o excesso é incômodo! Aristóteles, filósofo que nasceu em Estágira, Grécia, século IV A.C., defendia que toda virtude consiste em racionalizar entre o excesso e a falta das características. O desequilíbrio consistiria em um vício, algo que deve ser evitado.

O desprezo a certas filosofias antigas é um erro comum da atualidade, que se tornou soberba ante a história devido sua condição tecnológica privilegiada. Esquecemos que somos um produto de gerações e temos nossos alicerces fundados nessas antigas filosofias, que possuem certa sabedoria que se apresenta de forma tão simples que encontra pouco espaço em nossa mente habituada com verdades pintadas em espetáculos!

Esquecemos a velha ética aristotélica e tornamos o exagero como norma em quase todos os aspectos. O exagero, no entanto, é simples de ser encontrado. Como deformação do pensamento, todo exagero se define como forma única de pensar, incontestável e absoluta. Certa "verdade incontestável" que anda tomando forma atualmente é a prioridade do social sobre o indivíduo.

Não digo que abrir os olhos ao social não nos trouxe nada! Nos tornamos mais propensos a ver o outro de forma civilizada, sem a superficialidade dos conceitos e pré-conceitos imediatos, procurando estabelecer uma relação de contextualização do outro, a compreensão da subjetividade alheia e o respeito por suas dignidades mínimas.

Isso representou um enorme avanço nas relações sociais possibilitando maneiras mais justas e compreensivas de existência, trazendo àqueles que beiravam a miséria e a desolação uma compreensão social e histórica de suas calamidades e a obterem uma melhor representação na sociedade.

Todavia, a progressiva supressão do valor individual ante o social está se tornando uma compulsão, um exagero. O bom senso e o meio termo estão sendo deixados de lado. A nova lei agora é ter "consciência social", um certo comportamento que foi assumindo um estereótipo que chega a ser cômico.

O industrial, o empresário,o empreendedor, o profissional liberal tornou-se o burguês faminto pelo lucro, demonizado como um traidor da humanidade e do progresso. No meio termo, como figurantes, temos as pessoas da classe média baixa, que levam suas vidinhas rotineiras, sem se darem conta de que são apenas peças e engrenagens do "sistema maligno" criado por esses vilões da pesada.  Eles vão encontrar uma galerinha do barulho: o pobre, a feminista, o gay, o negro, o índio e todos supostos oprimidos que heroicamente resistem ao burguês devorador de almas, que usa a mídia como instrumento de sua opressão.

E então o que parece o enredo de um filme infanto juvenil da sessão da tarde (imaginei inclusive o épico "narrador da sessão da tarde" entoando o texto acima) vai se tornando a concepção de realidade absoluta de algumas pessoas! O que parece não ser compreendido e colocado na balança é que somos simultaneamente parceiros e rivais na sociedade e essas figuras não podem ser tão distintas a ponto de se transformarem em estereótipos

O empresário, o policial da rota, o advogado e até mesmo ele, sim, o político, todos eles assumem papéis como pais, mães, irmãos, amigos,etc.... Todos eles encontram dificuldades, depressões, tristezas e alegrias todos os dias. Eles comem como você, transam como você, mijam, cagam, arrotam e peidam sem exceção. São pessoas exatamente iguais a qualquer um! Eles até podem amar sabia?

Assim como existem feministas mau caráter, gays filhas da puta, negros colarinho branco e ativistas do greenpeace que não valem uma pipoca. Sim, tudo isso existe, sabe por que? Porque somos humanos!!! Todos! Não seguimos roteiros nem verdades absolutas!

Acontece que eventualmente todos nós nos encontramos em lados diversos do tabuleiro da vida, e isso por um motivo bem simples: Temos interesses pessoais que competem entre si!.

Como a bola da vez é o mundo colorido da amizade e da felicidade, aonde unicórnios rosas voam por nossas cabeças e todos vomitam arco-íris, nos esquecemos que competimos uns com os outros afim de impor nossos interesses particulares, e que não existe nada de "opressor" nisso. É tão natural da humanidade a competição bem como a cooperação, somos amigos e rivais em potencial de todas as pessoas que nos cercam. E o equilíbrio dessa dialética humana é fascinante!

No judô, talvez a mais tradicional das artes marciais modernas, encontramos um preceito interessante para manter o equilíbrio entre a competição e a cooperação: "jita kyoei" (Mútuo bem estar e benefício)

Esse é um dos pilares do judô, que ainda que seja uma arte marcial e um esporte, e portanto mantém um ambiente de máxima competição, nos lembra do papel da solidariedade e apoio ao próximo. Podemos naturalmente competir sem nos matar. Assumimos esse duplo papel de cooperação/competição diante de cada indivíduo que nos acerca.

A competição não pode ser reduzida a um "recurso capitalista para manter a hegemonia covarde dos opressores sobre os oprimidos", isso é uma simplificação pueril ante uma existência tão complexa como a realidade humana. Competir faz parte da vida, simples assim. Na natureza a competição é essencial para a sobrevivência e não seria diferente com as pessoas, fazemos parte da natureza antes de fazer parte da sociedade e os mesmos dispositivos naturais que temos para nos sociabilizar também nos levam a impor nossos preceitos e interesses pessoais

A liberdade e o estímulo para competição são essenciais e saudáveis, tanto para o indivíduo como para o coletivo! Saber vencer e ser recompensado pela vitória é uma satisfação sem igual. Quando, através do nosso esforço pessoal alcançamos uma vaga na universidade, uma casa, um carro, uma viagem, uma família, uma viagem em família e tantas outras coisas que são tão gratificantes, vivemos um momento único em nossas vidas!

O sabor de vencer não tem preço! Assim como o amargo da vitória. É isso que significa o "jita kyoei", é saber vencer e saber perder. Saber vencer é não hostilizar o vencido, nem carregá-lo nas costas, mas sim estender-lhe a mão para que ele possa se reerguer com suas próprias pernas e possa competir novamente.

E saber perder é encarar o horizonte, saber aceitar a ajuda, ouvir críticas, refletir nos próprios erros e ter o brio de andar pelas próprias pernas!

Lembremos que o Filósofo bem dizia que a virtude é resultado da ponderação. E da razão entre competição e cooperação nasce a virtude humana de coexistir!

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