quarta-feira, 5 de março de 2014

Porque não devemos lutar contra a desigualdade social

 

Hoje existe uma crescente modinha em se culpar a tal "desigualdade social" por todas as mazelas da sociedade. A pobreza, a maldade, a criminalidade, a violência, o preconceito, dor de barriga e até impotência, tudo é culpa do "capitalismo malvado" e da "desigualdade social".

Mas será que a tal desigualdade social é mesmo o grande vilão da humanidade? Vemos que movimentos sociais dos mais diversos tipos e governos de diferentes partidos defendem avidamente a redução das desigualdades para que possamos ter, enfim, a sonhada igualdade. Mas será que essa linha de raciocínio está correta? Possui alguma coerência pensar assim?

Vamos pensar um pouco e tentar compreender, primeiro, os conceitos que trabalhamos quando invocamos a tal "desigualdade social". Como definir a tal desigualdade? Penso que não exista melhor forma de definir isso como certa negação de direitos e/ou condições que impossibilite a igualdade de oportunidades entre indivíduos. Mas tudo isso na verdade parte de negações. Existe algum conceito que nos diga exatamente o que é desigualdade sem partir da negação do conceito de igualdade?

Me parece que a própria palavra "desigualdade" já contém em si a resposta: Não! Não é possível definir desigualdade sem igualdade, portanto desigualdade é um conceito negativo, ou seja, diminuí-la não significa necessariamente consolidar a igualdade. Pode parecer estranho, mas um exemplo, que eu chamo pessoalmente de paradigma do poço, pode ilustrar bem a situação.

Imagine um cidadão no fundo do poço (literalmente). Podemos aplicar a ele o conceito de desigualdade dizendo que ele está desigual em relação ao solo, em um nível abaixo dos que habitam a superfície.

Suponhamos que um outro cidadão, o seu Lenine, tem uma ideia brilhante para acabar com a tal desigualdade. Ele convoca milhares de pessoas para cavarem um enorme buraco ao redor do poço, nivelando todas as pessoas para o fundo do poço. Ora, eles reduziram a desigualdade, agora estão todos iguais, mas no fundo do poço. Não houve uma propagação da igualdade, ela foi adquirida de forma negativa, ou seja, buscando diminuir as não-igualdades, da exata forma como o senso comum defende.

Um exemplo disso são as políticas afirmativas, como as cotas. Elas realmente combatem a desigualdade, mas como se trata de um conceito negativo, ao invés de promover as igualdades ela as tolhe, exatamente como o Lenine, que ao invés de lançar uma corda para que o sujeito possa subir, cava um enorme buraco para que todos possam ser "iguais" no fundo do poço. As cotas para negros nas universidades, por exemplo, privam o direito de um sujeito (o direito de ingressar no curso o qual ele foi considerado apto pelo meio seletivo comum, que é o vestibular) para conceder o mesmo direito a outro sujeito, que não seria considerado apto pelo mesmo processo seletivo. Concede esse direito mediante classe social ou etnia, o que é feito sob a intenção de diminuir as desigualdades de um grupo em relação a outro. Na prática, consiste claramente em prejudicar um grupo para dar oportunidade a outro, em síntese, a lógica do Robin Hood.

Prejudicar qualquer pessoa que seja não pode ser promover a igualdade. O problema reside em uma abordagem que foca na diminuição de desigualdades, ou seja, aborda o conceito em sua negação sem se importar de fato, com propagar o conceito mesmo de igualdade.

Lembra que definimos a desigualdade como uma restrição de direitos e/ou condições que garantam as mesmas condições a todos? Portanto o correto seria promover iguais condições a todos através de direitos , o que seria no caso, garantir o direito de uma educação pública gratuita de qualidade, pois assim todos seriam apenas beneficiados e teriam iguais oportunidades de estudo. Ora, garantir as mesmas oportunidades a todos é, obviamente, a prática do conceito de igualdade. Seria o equivalente a jogar uma corda para que o cidadão, encerrado no fundo do poço, possa subir e finalmente estar no mesmo nível que todos os demais

Por isso não devemos lutar contra a desigualdade. Uma análise dos problemas sociais por essa perspectiva leva claramente a solução mais simples, que será sempre nivelar por baixo. Acontece que nivelar por baixo não interessa! Não queremos estar todos iguais no fundo do poço, mas sim todos iguais no topo da montanha

Abordar a questão sob a ótica da igualdade, positivamente, não é tão "heroico" quanto o sacrifício de "doar um pedaço de minha liberdade para aqueles que precisam" mas é funcional, racional, inteligente e um pouco mais trabalhoso, entretanto é um trabalho que só se faz uma vez e vale a pena!

E então governos e movimentos sociais, será que não vale a pena mudar o foco para algo que respeite os direitos individuais e promova, de fato, uma melhoria no padrão de vida das pessoas?

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